O sujeito lírico não se coloca como anunciador do fim, mas como alguém que, mesmo ciente da precariedade de tudo, “busca acordar ao amanhecer” — um gesto mínimo, mas profundamente afirmativo.
O soneto apresenta uma tensão entre o impulso vital e a ruína global. As primeiras estrofes equilibram niilismo e resistência. O verso:
é inútil ser androides dos deuses
é emblemático da crítica à automatização da vida, à submissão a forças superiores, sejam elas divinas, tecnológicas ou ideológicas. A ideia de que somos “um mero acaso do universo” revela o flerte com o existencialismo, mas é suavizada pela escolha de continuar:
aventuro vencer trilhas por meses
Nos tercetos, a visão se amplifica: a humanidade órfã (sem “paternidade”) vê-se perdida num mundo sem guia nem redenção. O tempo e o espaço, categorias absolutas, são relativizados. E, ao fim, a pergunta paira: será que já ativamos todos os selos do juízo final? Ou ainda resta esperança?
Boa leitura!
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