Francisco Hardi Filho (Crateús - CE, 5 de julho de 1934 – Teresina, 26 de março de 2015) foi um poeta, jornalista e ensaísta brasileiro, pertencente ao grupo CLIP da literatura dos anos 60 no estado do Piauí, região Nordeste do Brasil.
Intelectual do Ano em 1989, quando foi eleito para a Academia Piauiense de Letras. Colabora em verso e prosa nos jornais, revistas e livros do Piauí e de outros estados, desde a década de 60, época em que participou do grupo de autores que criou o CLIP (Círculo Literário Piauiense), movimento cultural com a finalidade de acompanhar e discutir os acontecimentos literários e políticos nacionais e locais.
Obras: Cinzas e Orvalhos (1964); Gruta Iluminada (1970); Poesia e Dor (1974 – Ensaio sobre Celso Pinheiro, poeta piauiense); De Desencanto e de Amor (1983); Teoria do Simples (1986); Cantovia (1986); Poesia e Dor no Simbolismo de Celso Pinheiro (1987); Suicídio do Tempo (1991); Oliveira Neto - Poeta do Amor e da Alegria (1994); Estação 14 (1997); Veneno das Horas (2000); O Dedo do Homem (Diário – 2000); O sonho dos deuses e os dias errantes (2001); Feições do Tempo e da Vida (2009); Tempo nuvem (2004); Poemas da mesma fonte Adélia (2006); Dia rio (2015).
RETRATO
Há na parede em frente um tal retrato
cujo semblante causa-me estranheza,
ao mesmo tempo em que tenho certeza
do nosso estreito, inseparável trato.
Ele me lembra um jovem literato
idealista - alma canora e acesa -
entusiasmado amante da beleza.
Aí me toca realmente o fato.
Na sala (meu livresco labirinto),
solitário e saudoso eu me consinto
ouvindo os ecos de outro dia-a-dia.
Ali, suspenso na parede em frente,
há um retrato meu de antigamente
que mais e mais de mim se distancia.
ARTISTA
No atelier da vida, solitário,
somente em comunhão com a fantasia,
eu fui o artista que criou miragens
para conforto de ânsias infinitas.
Eu fui, também, aquele que traçou
formas de vida pelo sentimento;
o gênio louco que ideou amores
para sustento, amparo da esperança.
Insano escafandrista dos mistérios,
fui tradutor das emoções do mundo
e desenhista da volúpia eterna.
De pé, trêmulas mãos, olhos insones,
fui satanás sedento de domínio,
fui deus criando e alimentando sonhos!
ESDRÚXULO
A prata, o caviar, a mesa elástica,
riem do pobre
e lhe pesam no vazio estômago.
O lustre, o veludo, o mármore,
esbofeteiam
a face do menino pálido.
Dói no seu corpo o sacrifício
da ingênua espera:
aberta mão ao desviado prêmio
De tanto conviver com áscaris
morre o menino
de alma e coração imáculos.
Uma paixão antiga, hoje única,
domina o mundo.
É torturante a dor sem número.