Origens e características
Importância cultural
Exemplos de cordel
- "A Chegada de Lampião no Inferno", de José Pacheco
- "O Pavão Misterioso", de João de Barros
- "A História de João e Maria", de Maria da Silva
Regras do Cordel:
- Gênero Literário - As narrativas do cordel utilizam-se de diferentes linguagens: a verbal (oral ou escrita), a visual (por meio da imagem).
- Estrutura do Cordel - Os poemas em cordel seguem regras de métrica e rima inescapáveis, sem elas não se faz um cordel, formado por orações.
- O que é o verso - É cada uma das linhas constitutivas de um cordel.
- O que é estrofe - É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que estância. Existem vários tipos de estrofes, no cordel as mais usadas são: sextilha, setilha e décima.
- O que é Rima - Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra. Rimas consoantes - As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita. (Essa é a forma adotada nas cantorias e na literatura de cordel por ser uma rima perfeita).
- O que é Oração - Frase em que o enunciado tenha sentido completo e possua um verbo.
- Metrificação - é o estudo e a aplicação das regras que determinam o ritmo dos versos em um poema. Ela envolve a contagem das sílabas poéticas, a análise dos acentos métricos e a estruturação dos esquemas rímicos.
Elementos da Metrificação
Métrica – Número de sílabas poéticas no verso. Alguns exemplos clássicos:
- Redondilha menor: 5 sílabas (pentassílabo)
- Redondilha maior: 7 sílabas (heptassílabo)
- Decassílabo: 10 sílabas (muito usado nos sonetos)
- Alexandrino: 12 sílabas
Acentuação Métrica – Distribuição dos acentos tônicos dentro do verso.
- No decassílabo heroico, os acentos principais caem na 6ª e 10ª sílaba.
- No decassílabo sáfico, os acentos fortes estão na 4ª, 8ª e 10ª sílaba.
Ritmo – Padrão de alternância entre sílabas tônicas e átonas, criando musicalidade.
Esquema de Rimas – Padrão de repetição dos sons finais dos versos.
- Alternada (ABAB)
- Interpolada (ABBA)
- Emparelhada (AABB)
- Livre (sem padrão fixo)
Contagem das sílabas poéticas
- Se o verso termina em palavra oxítona (aguda), conta-se normalmente.
- Se termina em palavra paroxítona (grave), soma-se uma sílaba a mais.
- Se termina em palavra proparoxítona (esdrúxula), soma-se uma sílaba extra, mas isso é raro na poesia tradicional.
- Exemplo:
"A manhã está fria."- Separação métrica: A-ma-nhã_es-tá-fri-a → 6 sílabas poéticas (não 8, pois "nhã" e "es" formam uma só).
- Diérese: Quando se separa um ditongo para aumentar a contagem métrica.Exemplo: "fri-a".
- Sinérese: Quando se unem duas vogais que normalmente formariam um hiato.Exemplo: "po-e-ta" pode ser lido como "pôe-ta".
Exemplo:
Para minha companhia (Pa-ra-mi-nha-com-pa-nhia :: sete sílabas poéticas).
Dai-me inspiração poética (Dai-me ins-pi-ra-ção-po-é-ti-ca :: sete sílabas poéticas), com sinalefa.
Talento e sabedoria (Ta-len-to e-sa-be-do-ri-a :: sete sílabas poéticas), com diérese.
Para descrever um caso (Pa-ra-des-cre-ver-um-ca-so :: sete sílabas poéticas).
De dor, pranto e tirania. (De-dor-pran-to e-ti-ra-ni-a :: sete sílabas poéticas), com sinalefa e diérese.
Observações:
a) A contagem das Sílabas Poéticas é, em alguns casos, diferente da contagem das Sílabas Gramaticais. Deve-se seguir, na Contagem Poética, o ritmo da declamação ou do “cantar”de cada verso.
Exemplo:
A Metrificação nos Diversos Estilos de Cordel
- A mais comum no cordel.
- Cada verso tem 7 sílabas poéticas, e os poemas geralmente seguem estrofes de 6, 8 ou 10 versos.
- Exemplo:
"Nas quebradas do sertão (7)
O vaqueiro galopava, (7)
Entre as folhas da caatinga, (7)
O seu canto ecoava." (7)
2. Decassílabo (10 sílabas)
- Embora menos frequente, é usado para dar um tom mais épico ou formal.
- Segue os padrões do decassílabo heroico (acentos na 6ª e 10ª sílaba).
3. Outras Medidas Menos Usuais
- Pentassílabo (5 sílabas) – usado em refrões ou versos curtos.
- Alexandrino (12 sílabas) – pouco usado, mas pode aparecer em trechos solenes.
Principais Formas de Estrofação no Cordel
- Sextilha - estilo muito popular na literatura de cordel e uma das mais fáceis (6 versos e cada verso deve ter sete sílabas poéticas - heptassílabos -, rima ABABCC ou AABCCB, ou ABABAB. Os 1º, 3º e 5º versos não precisam rimar e o 2º, 4º e 6º rimam entre si);
- Setilha - talvez o mais popular. (composta de 7 versos, cada verso com sete sílabas poéticas - heptassílabos, rima ABABCCB. O 1º e 3º verso não precisa rimar, mas o 2º, 4º e 7º verso rimam entre si e o 5º e 6º);
- Oitava (8 versos, rima ABABABCC)
- Décima ou décima de sete pés - é o estilo mais usado em cantorias ao vivo, ao som de violas, nos desafios de dez versos (10 versos, cada verso com sete sílabas poéticas, rima ABBAACCDDC – usada no "mote e glosa")
O cordel busca musicalidade, ritmo fluente e rimas bem definidas.
Mote e glosa
Mote é um verso ou conjunto de versos que servem de tema ou inspiração para a composição de uma glosa (desenvolvimento poético do mote). É uma prática comum na literatura oral nordestina, especialmente nas pelejas (desafios poéticos) e na poesia improvisada dos cantadores. O mote orienta a criação do poeta, que deve encaixar suas ideias dentro da métrica e rima exigidas.
Tipos de Mote
- Mote de um verso – Apenas um verso que será repetido no final de cada estrofe da glosa.
- Mote de dois versos (mote em redondilha maior) – Mais comum, usado para a décima (estrofe de 10 versos).
Exemplo de Mote e Glosa (em Décima)
"Quem nasce pra ser poeta
Não pode fugir do verso."
"Na palma da minha mão
Escrevo a rima perfeita,
Seja em trova ou seja em letra,
Feita com dedicação.
Do cordel sou artesão,
Com rima e ritmo imerso,
Componho e nunca disperso,
Pois Deus me deu a caneta,
Quem nasce pra ser poeta
Não pode fugir do verso."
Romance da Morte de Zilma
Vinde musas do Parnaso
Para minha companhia
Dai-me inspiração poética
Talento e sabedoria
Para descrever um caso
De dor, pranto e tirania.
II
Quem gostar de poesia
História e verso rimado
Leia este drama horroroso
Há certo tempo passado
Que o mais duro coração
Fica sensibilizado.
III
Quando Monsenhor Hipólito
Faz a sua independência
Houve um caso pavoroso
De doer a consciência
Cujo caso ainda vive
Na minha reminiscência.
IV
Coronel Chico Zinguera
Tinha uma propriedade
Na fazenda Cabeceira
Perto daquela cidade
Lugar onde registrou-se
Este coronel é chefe
De família númerosa
Possuía entre outras
Uma filha caprichosa
Honesta e trabalhadora
Mais linda que uma rosa.
VI
De nome Maria Zilma
Usava simplicidade
Imagem da paciência
Modelo da caridade
Símbolo da santa pureza
Exemplo de castidade.
VII
Ao seis anos de idade
Perdeu sua mãe querida
Criou-se na orfandade
Porém foi bem instruída
Mas dos carinhos maternos
Pouco desfrutou na vida.
VIII
Zilma demonstrava ter
Excelente coração
Era um amparo dos fracos
Da pobreza a remissão
Defesa da inocência
Dos tristes a consolação.
IX
Vivendo na orfandade
De mãe, e seu pai estava
Já com avançada idade
Era Zilma o baluarte
Daquela propriedade
X
Mesmo assim Maria Zilma
Dava conforto ao lar
As suas raras virtudes
Não se pode enumerar
Encantava a vizinhança
A sua vida exemplar.
XI
Deixo aqui Maria Zilma
Na sua dignidade
Para falar em um ente
Cheio de perversidade
Aborto da natureza
Cúmulo da barbaridade.
XII
Zé Policarpo era o nome
Desta horrorosa figura
Primo legítimo de Zilma
Tinha um misto de loucura
E fez a pobre inocente
Ir parar na sepultura.
XIII
O pai de Maria Zilma
Coronel Chico Zinguera
Aquele instinto de fera
Traiçoeiro como o tigre
Valente que só pantera.
XIV
Não sei se era por loucura
Por inveja ou ambição
Policarpo alimentava
Um rancor no coração
E na pessoa do tio
Quis vingar esta paixão.
XV
E tanto que Policarpo
Com o seu gênio agressivo
Contra a pessoa do tio
Mostrava ser vingativo
Porém da sua ojeriza
Ninguém sabia o motivo.
XVI
Como fera ele espreitava
Uma oportunidade
A fim de concretizar
Seu instinto de maldade
Assassinando seu tio
O que mais tinha vontade.
XVII
Vivia assim Policarpo
Como que num desespero
A espreitar o seu tio
Como um lobo carniceiro
A seu modo traiçoeiro.
XVIII
Sua mãe muito doente
Sobre o seu leito jazia
E Zilma penalizada
Foi consolar sua tia
Preparar seu alimento
E lhe fazer companhia.
XIX
Policarpo planejou
Matar Zilma apunhalada
E o pai dela acudia
Quando ouvisse a zoada
Ele aí matava o velho
Estava a questão findada.
XX
Era uma tarde de agosto
O sol estava brilhante
Temperatura elevada
Na região circundante
Trajetando sobre a terra
Um calor asfixiante.
XXI
Zilma saía de um quarto
Algre sem pensar nada
E Policarpo vibrou-lhe
A primeira punhalada
Ela defendeu-se e disse:
Ô hora triste e magoada!
XXII
De Deus ela se valia
Lutando com heroísmo
Contra aquela tirania
Mas seu primo rancoroso
De nada se condoia.
XXIII
Nesta luta a pobre Zilma
Vários golpes recebeu
Resistindo alguns minutos
Ainda se defendeu
Mas gravemente ferida
Coitadinha esmoreceu.
XXIV
A pobre já agonizante
Com esforço conseguiu
Levantar cambaleando
Fora da casa saiu
Andou algumas passadas
Não sustentou-se – caiu.
XXV
De uma casa vizinha
Ouviram a exclamação
Gritos de alarme e gemido
Era enorme a confusão
Correram encontraram Zilma
Quase morta sobre o chão.
XXVI
Composta de ferimentos
O braço esquerdo cortado,
Pálida, fria, semi-morta
Caída no chão gemendo
Com o peito apunhalado.
XXVII
Com a voz trêmula dizia:
O’ Santo Deus de clemência
Amparo dos desgraçados
Defensor da inocência
Neste golpe cruciante
Redobrai-me a resistência.
XXVIII
Adeus lar estremecido
Da minha predileção
Adeus primos e sobrinhos
Parentes que aqui estão
Adeus papai extremoso
Irmãos do meu coração.
XXIX
Levaram Maria Zilma
Para sua moradia
Nos estertores da morte
Sem alento, pálida e fria
As lágrimas banhando o rosto...
De vez em quando gemia.
XXX
Só as pedras não choravam
Ante aquele acontecido
Foi um choque inesperado
Para o seu papai querido
A família soluçava
Num pranto desinsofrido.
Tinha uma irmã de Zilma
Que morava em Teresina
Logo que foi avisada
Daquela horrível chacina
Lamentava angustiada
Quase que se desafina.
XXXII
Foi uma tarde tristonha
À noite houve sentinela
Pai, irmãos, primos, sobrinhos
Enfim toda a parentela
Até pessoas estranhas
Pranteavam a morte dela
XXXIII
De cada boca saía
Lamento, ais e gemido
Com o temeroso espetáculo
Ficou tudo comovido
Todo o pessoal em massa
Contemplava estarrecido.
XXXIV
Foi uma surpresa horrível
Para seus familiares
De lamento e desatino
Se enchia todos os lares
Um portador avisando
Foi pra diversos lugares.
XXXV
Uma multidão crescida
Enchia aquele aposento
Gritos de dor e lamento
Preparando o necessário
Para o seu sepultamento.
XXXVI
Era o dia 6 de agosto
Às quatro da madrugada
A estrela matutina
Anunciava a alvorada
Seguiram com o cadáver
Da jovem martirizada.
XXXVII
Em demanda ao cemitério
Faziam seu funeral
O sino lá da igreja
Dobrava dando sinal
O povo em massa fazia
Cortejo sentimental.
XXXVIII
Quando no leito funéreo
Depositaram o caixão
A família soluçava
Sem achar consolação
Lamentando angustiada
A dor da separação.
XXXIX
Enquanto Zilma descansa
No leito da sepultura
Lembro ainda Policarpo
Aquela vil criatura
Autor da tragédia tétrica
Neste drama de amargura.
Pois bem, José Policarpo
Depois do assassinato
Talvez sentindo remorsos
Deste pavoroso ato
Deixou a casa e correu
Refugiou-se no mato.
XLI
E a família de Zilma
Extremamente abalada
Ante aquela cena triste
Ficou desorientada
Sem encontrar tirocínio
Tristonha e desconsolada.
XLII
Saíram os irmãos de Zilma
Um dia pela manhã
Passaram lá na fazenda
Da Serra, subiram a chã
Procurando pelo mato
O algoz de sua irmã.
XLIII
Por caminhos e veredas
Muito além da moradia
Andaram em sua procura
Até quase o meio-dia
Mas do seu esconderijo
Pessoa alguma sabia.
XLIV
Ali por todos os lados
Os vestígios do carrasco
Estavam quase apagados
E não encontrando indícios
Voltaram desenganados.
XLV
Já decorriam três dias
Que o caso se passou
Policarpo pelo mato
A fome e sede atacou
E nas caladas da noite
Da casa se aproximou.
XLVI
Não encontrando ninguém
A casa à chave fechada
Ele arrombou uma porta
Nesta mesma madrugada
Armou-se com outra faca
Que tinha dentro guardada.
XLVII
No dia nove de agosto
Um dia de quinta-feira
Coronel Chico Zinguera
De revólver e cartucheira
Foi percorrer novamente
A fazenda Cabeceira.
XLVIII
Um neto do coronel
Com ele também seguia
E o Simplício, seu genro
Tio pelo lado paterno
Do carrasco de Maria.
XLIX
Se aproximaram os três
Daquele dito local
Onde há três dias se deu
Aquela cena brutal
E ainda germinava
A sementeira do mal.
L
Avistaram Policarpo
Em uma cerca que tinha
Empunhando grande faca
Já puxada da bainha
Dando a conhecer que estava
Numa pretensão mesquinha.
LI
E ficou observando
Lá da ponta do terreiro
Com o semblante espantoso
No mais cruel desespero
Bramia rangindo os dentes
Como um lobo carniceiro.
LII
Zinguera vendo o sobrinho
Como uma fera bravia
Atirou diversas vezes
Pra ver se ele temia
E com isto o assassino
Inda mais se enfurecia.
Ali coronel Zinguera
Contra Policarpo avança
Com ele o genro e o neto
Este quase uma criança
Ambos rogavam pedindo
Que não quisesse vingança.
LIV
Policarpo como louco
Pau e pedra rebolava
Zinguera com o revólver
De quando em vez atirava
E ele como relâmpago
Das balas se desviava.
LV
Poucos minutos depois
Reuniu-se muita gente
Tudo contra Policarpo
Num protesto veemente
Aí é que o assassino
Lutava assombrosamente.
LVI
Coronel Chico Zinguera
De arma firme na mão
Atirou em Policarpo
E depois da explosão
Ele tombou e caiu
Mas com a faca na mão.
LVII
Todo pessoal presente
Assistia horrorizado
Muito abatido e cansado
Pensando ter morto a fera
Conservou-se ali deitado.
LVIII
Nisto viu-se o indivíduo
Levantar ligeiramente
E investir contra o tio
Com o furor de serpente
Cravou-lhe o ferro a miúdo
Desapiedadamente.
LIX
Alguns dos homens que tinha
Entraram logo em ação
Houve tiros e pancadas
Foi enorme a confusão
Todos contra Policarpo
Sem ter dó nem compaixão.
LX
Daquele salseiro rude
Houve como resultado
Zinguera desfalecido
Com o corpo apunhalado
Policarpo quase morto
Outro homem baleado.
LXI
As pessoas da família
Chegaram com brevidade
Apanharam os feridos
Levaram para a cidade
E Policarpo ficou
Em poder da autoridade.
Coronel Chico Zinguera
Ficou bastante doente
Se pensava até que ele
Morreria brevemente
Toda a família velava
Ali cuidadosamente.
LXIII
Até que chegou o médico
De perícia conhecida
Medicamento adequado
Botava em cada ferida
Empregando todo meio
A fim de salvar-lhe a vida.
LXIV
Sofre coronel Zinguera
Uma longa enfermidade
Com ferimentos horríveis
Da mais alta gravidade
Angústia e dores atrozes
Que causava piedade.
LXV
Dias e dias passaram
Ele nesse sofrimento
Custou-lhe grandes cuidados
Promessa e medicamento
Até que cicatrizou
O seu último ferimento.
LXVI
O outro que foi ferido
Que naquela ocasião
Um balaço recebeu
Teve cuidadoso trato
Felizmente não morreu.
LXVII
Policarpo passou dias
Em poder do inspetor
Sem se fazer tratamento
Num estado de clamor
E em se falar no caso
Todo mundo tinha horror.
LXVIII
Pessoas que se moviam
Por força da caridade
Iam visitá-lo ali
No cárcere da crueldade
Já outros queriam vê-lo
Só por curiosidade.
LXIX
Em sangue e desfalecido
Mas ainda conversava
Respondia qualquer coisa
Quando alguém lhe perguntava
Porém falando no tio
Colérico se exasperava.
LXX
Alguns dias decorreram
Ele ainda em seu sentido
De ter morrido sua prima
Mostrava-se arrependido
Mas contra o tio ficava
LXXI
Um tio de Policarpo
Vendo a triste condição
Levou-o para sua casa
Tratou com mais atenção
Pois seu desprezo era ali
De comover compaixão.
LXXII
E a mãe de Policarpo
Com o caso que se deu
Tornou-se mais abatida
Com o golpe que sofreu
Agravou-se o seu estado
Com poucos dias morreu.
LXXIII
Depois de dezessete dias
Do sinistro acontecido
Exterminou-se o malvado
E no seu último gemido
Mostrava levar do tio
Um rancor descomedido.
LXXIV
Coronel Chico Zinguera
Hoje vive sossegado
Apesar de que se encontra
Muito velho e acabrunhado
Sem lhe fugir do sentido
Seu torturante passado.
LXXV
De Zilma, a jovem inditosa
Manoel Francisco e Vicente
Francisca Maria e Rosa
Lamentando pensativas
Cada qual mais saudosa.
LXXVI
Os irmãos da falecida
Não esqueceram jamais
De visitar a lousa que
Cobre os seus restos mortais
Com epitáfio gravado
Dizendo “Descanse em paz.”
LXXVII
Queiram desculpar as falhas
Que o meu trabalho tem
Pois escrevi comovido
Por um soluço que vem
E quem não chorou ainda
Chore por ela também.
LXXVIII
Minha canhestra caneta
Inábil mas sem vaidade
Garatujou estas linhas
Um drama de cueldade
Em traços descoloridos
Lamentando com saudade.
LXXIX
Guardei na minha memória
Um passado de aflição
Assombroso, detestável
Rancoroso e de traição
Nos corações piedosos
Inspiram consternação.
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