Poeta, contista, romancista, crítico literário e ensaísta, o literato piauiense Francisco Miguel de Moura merece ser classificado como um escritor versátil e é conveniente notar que ele sempre se sai bem em todos os gêneros a que se dedica.
Em OS ESTIGMAS Francisco Miguel de Moura palmilha os caminhos do romance, talvez novela, tirando a matéria-prima com que molda o seu trabalho inicialmente da vidinha simples de pequenas cidades, Conceição e alhures, prosseguindo depois também com a predominância de gente simples da metrópole, no caso Teresina. Ciro é a figura central que atua o tempo todo como se estivesse conduzindo o fio da meada, mas a seu redor a mesmice do quotidiano atua e estua, sendo que Francisco Miguel de Moura se vale dela para ir tecendo sua teia ficcional com fortes características de verossimilhança, desde a sucessão estática do dia-a-dia até chegar ao final totalmente inesperado e impressionante. É preciso ser um escritor de muito talento e muita garra, coisas que não faltam a Francisco Miguel de Moura, antes muito pelo contrário, para construir um texto atrativo mas aparentemente sem importância que se desenrola no diário viver.
Se a temática ronda quase sempre os limites do tédio, e nisto se aproxima das novas formas do romance, a força do ficcionista autêntico que é Francisco Miguel de Moura entrelaça o fluir dos acontecimentos rotineiros, quer no interior, quer na Capital, com tamanha classe e vigor que os fatos descritos e analisados surgem aos olhos atentos do leitor com a pujança de coisas palpitantes e trepidantes. Isto, por si só, já denota a força do ficcionista de talento inconteste, capaz de prender o leitor da primeira à última página.
Sob um outro aspecto, o da técnica e do labor literário, «OS ESTIGMAS« também merece louvores, pois numa boa narrativa não importa apenas o que se conta mas também como se conta. Afinal, contar um caso está ao alcance de qualquer um, mas pegar a história e burilá-la, como se faz com as pedras preciosas, isto já é tarefa de escritor talentoso e talento é o que Francisco Miguel de Moura tem bastante. Ele é um verdadeiro mestre na difícil arte de tecer palavras. Conhece muito bem a língua portuguesa e escreve imbuído pela trama, mas sem se deixar dominar por ela. Domina-a. Sendo assim, em que pese a melancolia imanente, a leitura envolve e fascina.
Aqui e ali, a presença do poeta que Francisco Miguel de Moura nunca deixa de ser. Há trechos obviamente em prosa, já que se trata de romance, mas com forte carga poética no fundo. Tudo é escrito num estilo muito límpido, como se as palavras fossem gotas de orvalho esparsas pela vegetação:
Tinha o viço das folhas novas do começo do inverno e a beleza das flores silvestres quando desabrocham.
Em resposta a uma pergunta de entrevista, o também piauiense O. G. Rego de Carvalho assim se expressa:
A literatura de minha terra, conquanto pobre em gêneros, é rica de valores.
A leitura agradável de “OS ESTIGMAS” vem provar, mais uma vez, que Francisco Miguel de Moura, sem a menor sombra de dúvida, é um desses reais valores.
Autoria: José Afrânio Moreira Duarte é contista, poeta e crítico literário, membro da Academia Mineira de Letras.
MOURA, Francisco Miguel de. Fortuna crítica de Francisco Miguel de Moura. Teresina: Ed. Cirandinha, 2008.
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